30 anos não são 30 dias. Uma trajetória de sucesso não se constrói do dia para noite, assim como sentimentos de carinho, respeito e admiração com ouvintes. Há 30 anos Maria José começava sua caminhada no rádio. Ficou sabendo pela mãe de uma amiga, que precisavam de uma pessoa para cobrir férias. Mais que depressa, Maria se interessou e foi fazer o teste. Mesmo tal atitude sendo a contragosto de seu pai, ele a levou até a rádio. Maria foi se encontrando devagarinho… Até que em um carnaval, tudo mudou. Quem conta pra gente esta história, é a própria Maria José.
“Eu sai escondida de casa, quietinha, porque eu tinha que trabalhar em casa. Vim aqui pra rádio, porque eu tinha amigos em comum. Conversei com a Mary, fui muito bem recebida e expliquei para ela que gostaria de fazer o teste. Me receberam muito bem, a Meire e o seu Zé Menino, e marcaram o meu teste. Passou mais ou menos 2 ou 3 dias, a secretária me ligou: ‘É da casa da Maria José? Você tem que estar hoje, 12:00 hrs, na rádio Emboabas’ Cheguei para o meu pai e disse: ‘O senhor sabe onde é a rádio Emboabas?’. Ele disse que sim e eu perguntei se ele poderia me levar lá. Aí ele me perguntou o porquê e eu disse que eu tinha feito um teste e iria começar a trabalhar naquele dia. Ele levou um susto, mas me levou. Cheguei lá e me apresentei, o Antônio Neto já estava por lá. Me explicaram como funcionava, eu sentei na mesa, que não era como a de hoje, aconteceram muitas modificações. Na época, tinha o vinil, as fitas cassetes e tinha que marcar onde eram as propagandas. Então eu fui aprendendo e falando. Depois, me colocaram para falar a hora no sábado e no domingo. Até que chegou o carnaval de 1991, cheguei para trabalhar e não tinha ninguém lá, só eu. Aí eu pedi a chave, abri a rádio, liguei o transmissor e comecei.”
Há 30 anos surfando nas ondas do rádio, Maria José passou por alguns momentos desafiadores no início da carreira.
“É aprender. Eu gostava muito de escutar as rádios de fora. Mas, você não imagina o que é mexer em uma mesa. Então, poder aprender a mexer na técnica e aprender coisas novas. Você passa por uns momentos de ir para o trabalho e de repente acontece alguma coisa no meio do caminho. Ou mesmo pessoas que chegam e tentam te mudar, ou fazer algo que possa te atrapalhar. Mas, graças a Deus, eu sempre procurei seguir uma linha reta na minha vida.”
Preconceitos também foram encontrados e colocados para Maria. Contudo, o amor pelo rádio e sua força, a fizerem seguir em frente. “Desafiador, porque uma mulher negra vir trabalhar em um lugar desse, é muito difícil. Eu tive momentos em que pessoas chegaram e falaram: ‘Nossa, você é negra e está nesse lugar?’ e eu questionei essa pessoa: ‘por que não? Sou negra com muita honra. Por que uma negra não pode estar em um lugar como esse?’. Fico muito feliz, pois tem pessoas que disserem que tem vontade de seguir esse caminho como eu. Pessoas que também tinham vontade de vir trabalhar na rádio. Crianças que saiam vinham para me conhecer e poder pedir música. Tinham muitas crianças que iam lá na hora do almoço, para saber quem era a tal Maria José e para me conhecer. Então a gente cria um laço. Mas, é desafiador, pois você tem que seguir uma linha para honrar a raça que você é.”
Após mais de 30 anos de carreira, Maria José se despede da Emboabas e se aposenta do rádio. Além de todo profissionalismo, o que também fica marcado é a amizade e o carinho com seus ouvintes fieis. Para Maria José, esse é um momento de gratidão.
“Estou muito feliz. Muito obrigada por tudo. Só tenho gratidão por todos, por toda família Emboabas que me consideram e por todos os meus queridos ouvintes, pessoas maravilhosas que eu conheci aqui na rádio. Tiveram alguns espinhos. Mas, graças a Deus, com a fé dos ouvintes que sempre me ajudavam, rezavam para mim e junto comigo, eu consegui levar firme aonde eu cheguei. Alegria. Muito obrigada por tudo, pelo carinho, a amizade, o aconchego de todo mundo. Muito obrigada!
A rádio Emboabas deseja a Maria José felicidades para este novo ciclo e agradece aos anos de dedicação e trabalho!