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Rádio Emboabas visita betas de São João del-Rei e descobre detalhes do Ciclo do Ouro

Ao caminhar pelas ruas históricas de São João del-Rei, você consegue imaginar que logo embaixo existe um outro mundo? Como se fosse uma cidade subterrânea?

Esse lugar realmente existe e a Rádio Emboabas pode comprovar. Nossa equipe embarcou em uma aventura para conhecer as minas de ouro, conhecidas como betas. Ao todo, elas são mais 100 na cidade histórica.

O passeio foi organizado pelo Museu Regional. A técnica de assuntos educacionais da instituição, Ana Maria Nogueira, fala sobre a ideia. “Na Semana do Meio Ambiente sempre pensamos em como valorizar o patrimônio natural da cidade. Sem contar que o Museu também tem o objetivo de aproximação com a comunidade. Acreditamos que o patrimônio da mineração ainda não é bastante valorizado como fonte de cultura e turismo”.

Visitamos duas betas. A primeira, a do Joviano, que fica no centro, atrás do barracão da Prefeitura. Logo na entrada, que é bastante estreita, os visitantes se deparam com duas galerias que se conectam aos bairros Alto das Mercês e Senhor dos Montes.

Caminhando por aqueles corredores escuros, frios e apertados é difícil pensar que dezenas de escravizados passavam até 20 horas do dia ali em busca de ouro para os seus senhores. Inclusive, crianças, que tinham a saúde afetada pelas condições de trabalho.

Quem explica é o guia Miranda. “A temperatura variava muito aqui dentro. De repente, subia de 16º para quase 30º. Então, o escravizado em uma mina como essa vivia pouco tempo. Aqui também trabalhavam crianças, que eram chamadas de ‘molecotes’. Elas eram utilizadas para adentrar partes nas quais os adultos não conseguiam. E por essa rotina precária, tinham muitos problemas de saúde, como arco senil. Isso acontecia quando fixavam os olhos em pontos com muita claridade por muito tempo. Também desenvolviam muitas doenças no coração por carregar muito peso”.

Entre 1700 e 1800, mais de 1 milhão de quilos de ouro foram extraídos em Minas Gerais e enviados para Portugal. E boa parte saiu de São João del-Rei.

A Giovana Fúsio, integrante do Museu, ficou impressionada. “É uma loucura! Esta é a primeira vez que entro em uma mina de ouro, em uma beta. Nunca tinha tido uma experiência como essa. Fiquei chocada, pois é muito fundo. Como as pessoas trabalhavam aqui?”, se perguntou.

Mais tarde, seguimos para a beta do Senhor dos Montes, que tem cerca de 40 metros de profundidade. Para chegar lá em baixo, é preciso descer uma escada enorme em zigue-zague, bastante inclinada, exigindo da resistência física.

Durante a exploração mineral, como as minas liberam gases tóxicos que podem mexer com os sentidos humanos e até levar a morte, os escravizados usavam uma técnica chinesa para checar se o ar estava rarefeito. “Quanto mais você desce para o subsolo, mais o ar fica rarefeito. No século XVIII, o que eles aprenderam com os chineses, foi descer com um passarinho, pois as minas liberam gases. Então, eles olhavam para a gaiola. Quando o passarinho se debatia, era sinal de que o ar estava rarefeito e gases tóxicos estavam sendo liberados nas galerias. Assim, os mineradores abandonavam a mina e voltavam somente no outro dia quando os gases já tivessem se dissipado”.

Lá as condições de trabalho eram as mesmas, totalmente precárias, unindo adultos e crianças de 10 a 12 anos de idade, com baixíssima expetativa de vida.

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