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Um exemplo de pai para filhos e de filhos para o pai

Foto: Reprodução/ Arquivo pessoal

Dizem que a vida imita a arte, mas essa reportagem é de uma família com vida real que certamente daria uma ótima história para a dramaturgia. Gabriel Tolentino é filho de Luiz Guimarães, o seu Luiz, que sofreu, ainda jovem, uma encefalite, doença que comprometeu a sua fala e os seus movimentos.

“Meu pai foi um Oficial do Exército. No início da carreira, ele teve uma doença neurológica, uma encefalite. No Exército, ele era atleta e fazia vários tipos de esportes; era algo que fazia parte da vida dele. E quando eu estava com um ano e meio e meu irmão mais novo com seis meses, meu pai ficou doente; parou de andar, não conseguia mais falar. De lá para cá, minha mãe cuidou muito bem do meu pai. Conseguiu criar eu e meu irmão praticamente sozinha”, relatou.

Desde então, a comunicação entre pai e filhos é baseada nas expressões faciais, e Gabriel fala com o orgulho sobre os ensinamentos do pai. “O meu pai tem duas coisas que sempre me marcaram muito. A primeira é a educação. Nesses cerca de 35 anos de doença dele, nunca vi meu pai triste; já o vi nervoso, impaciente, mas triste, com a cabeça baixa e desanimado com a vida, nunca. Quem convive com ele sabe que se contar uma piada ele ri. Apesar da dificuldade em se expressar, ele está sempre consciente. Outro grande exemplo é que, apesar de toda a limitação, uma pessoa que mal conseguia andar, mal conseguia ficar em pé, era comum a gente chegar à cozinha e vê-lo lavando a louça. É algo muito bacana. Mesmo que ele lavasse com toda a dificuldade e a gente tivesse que lavar depois, estava ali o exemplo de pai, marido, um homem que tentava ser companheiro, parte da família”.

Em 1996, uma criança de 10 anos, teve um sonho de gente grande: participar com o pai de uma corrida rústica. “Quando eu era criança, estava vendo uma reportagem no Globo Esporte sobre uma equipe americana, a qual o pai levava o filho, que era deficiente, nas corridas. Praticamente eles foram a primeira equipe do mundo a fazer isso. Assstindo a essa reportagem eu pensei: ‘um dia quero fazer isso com o meu pai’. Mas quando somos crianças, tudo é muito difícil. Com o tempo, vamos amadurecendo. E a partir de um momento eu queria fazer o mesmo com o meu pai”, contou.

A ideia foi amadurecendo junto com Gabriel, que em 2011 resolveu realizar o sonho. Assistindo a uma reportagem do quadro Planeta Extremo do programa Fantástico, ele conheceu a história de uma equipe de bombeiros franceses que levavam três adolescentes em monociclos para disputar uma corrida de mais de 200 km em um deserto. Da matéria assistida, à volta de seu Luiz para a prática de esportes, passou um ano. Na época, Gabriel teve a ajuda do amigo Ricardo Kessur, estudante de engenharia mecânica na UFSJ e presidente da Empresa Júnior Ômega, que desenvolveu o projeto do monociclo, similar ao que Gabriel tinha visto na reportagem, sem custos.

“Foi em uma conversa com amigos que surgiu a necessidade do equipamento. Um deles estudava em uma empresa júnior das engenharias da universidade. Ele disse: ‘Se você quiser, podemos projetar esse equipamento para você’. Foi então que a universidade começou a nos ajudar e construímos o equipamento. Com ele pronto, fizemos pequenas modificações. Comecei a treinar sozinho para saber qual seria a demanda de moficiação. Logo depois, rapidamente, conversei com amigos que gostavam de corrida e teve um engajamento muito grande”.

Depois do equipamento pronto, para levar o Luizão, como Luiz ficou conhecido durante as corridas, Gabriel contou com ajuda do irmão Daniel Guimarães, para participar do primeiro desafio, uma corrida de montanhas na cidade de Tiradentes, o x-Terra, em um percurso de 7,5km. “À época, meu irmão estava na academia de bombeiros. Então, vieram bombeiros de todo o estado de Minas Gerais para participar da primeira corrida com a gente. Foi muito marcante; algo que até hoje quando lembramos, nos emocionamos”, disse.

Entre tantos trajetos, naquele mesmo ano, os filhos do seu Luiz foram disputar a Volta Internacional da Pampulha, quando escutaram um pedido de ajuda para guiarem um deficiente visual, o Alex. A partir daquele momento, Alex ganhou mais do que guias para ajudá-lo a atravessar a linha de chegada, conquistou amigos. E amizade é algo muito importante para a família. “Tenho os melhores amigos que alguém poderia ter. Meus amigos foram fundamentais para que tudo pudesse acontecer. Sem equipe ou sozinho, ninguém faz nada”.

Se a ajuda para o projeto veio de amizades, ela também serviria para outro amigo, o Alessandro Pinho, que teve complicações na hora do parto e possui problemas de locomoção motora. Em 2013, os irmãos resolveram convidar o amigo para correr a edição do x-Terra. Surgindo a equipe ALA, com as iniciais de cada participante: Alexandre, Luiz e Alex. “O lema da nossa equipe é ‘um por todos e todos por um’. Significa que a coletividade é o mais importante. Não preocupamos com vitória, com tempo. Nossa única preocupação é proporcionar um momento legal para todos. Principalmente, para quem está sentado ali na cadeira”.

Desde então, seu Luiz que sempre foi exemplo dentro de casa é exemplo fora dela também. Ali ao lado dos filhos, Luizão e toda equipe ALA passam um exemplo que é difícil de colocar em palavras, mas a família sabe que algumas coisas, talvez as melhores da vida, podem ser apenas sentidas. “Sinto meu pai com uma alegria profunda. Você olha para a cara dele, você vê que está sorrindo, comemorando, gritando muito com a gente. Ele tem essa dificultada em se expressar verbalmente, mas pela fisionomia vemos que ele está gostando muito. Tem um vídeo nosso, de quando ele subiu ao pódio pela primera vez. Ele estava sentado no triciclo, quando o levantamos, ele deu uma risadinha. Aquele momento é muito emocionante”, afirmou.

E assim como o sorriso do seu Luiz ao completar a prova e ser aplaudido por uma multidão, ser pai também é isso: uma sensação impagável, mesmo com as adversidades que a vida nos reserva. Um feliz dia dos pais!

Para conferir as emoções completas dessa história, sintonize seu rádio na 92,7 FM Emboabas Mais informação, neste domingo (08), às 09h30 e 16h. Logo após a transmissão via rádio, a reportagem será disponibilizada na íntegra na área de podcasts.

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