Cheia de respeito e carinho. Assim deveria ser a vida de quem muito já batalhou. Mas não é o que acontece em todos os lares. Aliás, a realidade é dura. Dados da Central Judicial do Idoso (CJI) apontam que, em 2020, as denúncias de violência contra aqueles que têm mais de 60 anos cresceram 53%, somando mais de 77 mil registros. E só no primeiro semestre deste ano, o Disque 100 já acumula mais de 33 mil 600 denúncias.
É para combater esse cenário que surgiu o “Junho Violeta”, mês dedicado a conscientização da violência contra a pessoa idosa. O médico e deputado federal Frederico Escaleira, atual presidente da Comissão do Idoso na Câmara, alega que os números são ainda mais expressivos. Grande parte dos atos violentos são praticados pela própria família. E para protegê-la, é comum o idoso não denunciar. E não são apenas agressões físicas. “Nós temos também o abuso emocional, quando a pessoa de fato ameaça o idoso, o deprecia. Isso, infelizmente é muito comum. Muitas famílias que vivem com o apoio importantíssimo da aposentadoria do idoso, mas o idoso para eles não tem nenhum valor. E acaba maltratando, criticando esse idoso. Assim, é triste ouvir que o idoso não faz nada, que ele não ajuda em nada, quando na verdade esse idoso é o grande sustento da família. Com isso, entra o abuso financeiro, não só pelos familiares e conhecidos, mas também pelas instituições financeiras. Essa é uma questão que nos incomoda muito. Às vezes a pessoa acaba de aposentar e já está lá um monte de gente ligando.”
Toda forma de violência, sem dúvidas, é prejudicial à saúde dos mais velhos. Mas o abandono tem peso maior. Quem deveria estar presente acompanhando as necessidades do idoso, na verdade, é ausência. “Mas o cuidado é com um todo. Então a família que abandona a saúde do idoso, que não tem a preocupação de marcar as consultas médicas, de levá-lo para fazer os atendimentos ou presenciar um idoso que está passando mal, a pessoa não é capaz de levar para uma Unidade de Pronto Atendimento. Então isso é maltrato como um todo. É triste. Mas a gente precisa ser realista, na hora de pegar o contracheque do idoso está lá alguém da família, que consegue uma senha, para pegar direitinho. Mas na hora de cuidar, não tem esse reconhecimento”.
Com o isolamento social e o afastamento de pessoas e órgãos que poderiam auxiliar, os casos de violência contra a pessoa idosa deram um salto e, em várias ocasiões, estão escondidos. Independente das circunstâncias do período, as denúncias devem ser feitas. Os telefones disponíveis são o Disque 100, do Governo Federal, Disque Denúncia 181, do Governo de Minas, e o 190 da Polícia Militar, para urgências.