Os números refletem uma realidade obscura. A cada uma hora e vinte minutos uma criança ou adolescente foi vítima de estupro, importunação, assédio ou outros tipos de violência sexual em Minas Gerais, em 2020. Os dados são da Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (Depca).
Estatísticas também revelam que no primeiro trimestre deste ano, nove ocorrências de estupro e de estupro de vulnerável foram registradas por dia. Frente à realidade da pandemia, o quadro se tornou ainda pior. A sensação é que os registros caíram. Mas isso é resultado do isolamento social. As crianças perderam contato com as pessoas e instituições que poderiam ajudá-las.
Nesta semana, o Brasil se une no enfrentamento à violência sexual contra menores. A analista e psicóloga da Polícia Civil de Minas, Lusia Jaqueline, explica que crianças violentadas podem carregar marcas psicológicas pelo resto da vida. E é preciso ficar atento, pois, geralmente, quem passa por situações como essa emite sinais. “Estudos mostram que existe uma relação entre violência e adoecimento emocional. Crianças que apresentam alteração de comportamento, podem estar sendo vítimas de alguma violência. Sinais de alteração de comportamento como problemas com sono, dificuldade de alimentação, agressividade, choro frequente, apatia, depressão e até mesmo ideias suicidas, porque a gente acha que as crianças não tem essas ideias, mas elas têm sim. Esses são sinais de que algo está errado com aquela criança. Claro que cada caso é único. Então, a gente tem que levar em conta também o desenvolvimento de cada criança, o seu contexto familiar, onde ela vive, como ela vive. Tudo isso tem que ser analisado.”.
As meninas, da faixa etária entre 12 e 17 anos, são as principais vítimas de abuso. Já os meninos representam 14,58% das ocorrências. Os mais afetados são aqueles entre 0 e 11 anos.
Caso um adulto desconfie, pode criar uma intimidade com o menor para conseguir algum relato. Porém, ter cautela é fundamental. Lusia reforça que a abordagem não deve ser direta. “Ao abordar essa criança, não a pressione a falar. Converse com ela, deixe que ela se sinta segura e proporcione um ambiente seguro para que ela se sinta à vontade para falar. Não faça perguntas diretivas para ela, porque dependendo da idade ela pode responder que sim, apenas por achar que é a resposta desejada por aquele adulto. Perguntas do tipo: ‘Foi fulano que fez aquilo com você?’, não é ideal. Procure abordar de uma forma mais aberta. Comece perguntando pela família, como é o convívio em casa, se tem pessoas que ela gosta mais, pessoas que não gosta tanto, se tem alguma pessoas que já fez algo que já a deixou magoada, ou a machucou de alguma forma. Nunca nomeando uma pessoa.”.
Os maiores canais para denúncia de violência sexual são o Disque 100 e Disque 181. A comunicação pode ser feita de forma anônima ou com identificação.