Eles já eram nascidos quando as mulheres conquistaram o direito do voto, eram crianças quando os alemães foram derrotados na Segunda Guerra Mundial. Quando jovens, acompanharam o primeiro homem que foi até a lua, fazem parte dos adultos que viveram uma ditadura militar e são os idosos que viram a tecnologia chegar de forma avassaladora. Nove décadas de vida, acompanhando fatos históricos, Célia Resende Montrezor e Vitório Montrezor Filho constroem uma história juntos há 68 anos.
Mesmo com toda experiência de vida, também foram surpreendidos pela pandemia da Covid-19. “Nunca pensava nisso, que era uma coisa tão demorada”, diz dona Célia. E seu Vitório completa: “Eu também nunca pensei que ia passar por isso.”
No último dia 12 de fevereiro, vivenciaram mais um momento histórico: a vacinação contra a doença, que impossibilitou o convívio com tantas pessoas queridas. Seu Vitório aos 91 anos e Dona Célia aos 90, descrevem o momento. “Eu fiquei feliz porque é meio caminho andado, depois já tomamos a segunda.” Seu Vitório disse: “A sensação de esperança, de valer a pena, de acabar com essa doença que está assolando o mundo inteiro.”
Afinal já são quase 12 meses vivendo restrições. “Do contato físico e dos abraços, porque a gente fica conversando de longe. Eu senti muita tristeza com isso.” Seu Vitório completa: “O diálogo com os amigos, os abraços, tudo isso me fez falta.”
Uma das filhas do casal, Ângela Montrezor, fala sobre as dificuldades ao longo da pandemia. “Esse período de quarentena com meus pais, não deixou de ser complicado, também pela idade deles. São 90 e 91 anos, quase 91 e 92. Para eles entenderem essa situação, de não poder sair, não poder ter contato com os filhos, com parentes e com amigos foi meio complicado.”
Apesar de uma certa tranquilidade com a vacinação, Ângela destaca que os cuidados que vão continuar sendo seguidos. “Nós não vamos relaxar com isso. Mas, a gente já vai ficar mais tranquilo em relação. Que o resultado dessa vacina seja eficaz e que a gente possa retornar ao que é presencial. Principalmente, o contato com familiares, amigos e ir à missa, que é o que eles estão sentindo muita falta.”
É já nessa segunda-feira, dia 01 de março, dona Célia e Sr. Vitório vão ser vacinados com a segunda dose. É a esperança de um novo tempo chegando. “Minha esperança é que essa vacina vá valer a pena. Se eu viver até 5 de abril, vou fazer 92 anos. 92 anos de idade, 68 de casado e vamos ver quanto tempo a gente ainda pode viver mais.” Já dona Célia disse: “Eu rezo muito e vou pedir à Deus para aqueles que tem os filhos que estão doentes, todos eles. Rezo muito para eles.” E juntos, finalizaram: “Vamos esperar para que dias melhor possam vir”.
Em São João del-Rei, todos os idosos acima de 89 anos já podem ser vacinados contra a covid-19. No entanto, a expectativa é que com a chegada de mais vacinas, a esperança de dias melhores chegue também para outras famílias.